Uma trama delicada se forma sobre a rede esticada, onde mãos habilidosas guiam agulhas especiais desenhando tradição por meio de fios entrelaçados. Ponto a ponto, pacientemente, surgem formas e cores que dão vida ao bordado filé, tipologia do artesanato tradicional do município da Barra dos Coqueiros. Na edição do Verão Sergipe, o bordado filé está presente no espaço reservado ao Artesanato Sergipano com o apoio da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem).
Esta tipologia do artesanato tem registro de indicação geográfica em Alagoas, porém muitas mãos habilidosas da Barra dos Coqueiros detém esse saber-fazer, tornando o bordado filé uma das tipologias que representam a cidade.
Josefa Lima, mais conhecida por Finha, trabalha com o bordado filé há mais de 15 anos. Ela está entre os artesãos participantes do espaço dedicado às tipologias no Verão Sergipe. Finha faz parte da Associação de Artesãos da Barra dos Coqueiros (AABC), onde acontecem oficinas para ensinar a arte do bordado filé ou renda de filé, como muitos chamam no município.
Para ela, a transferência desse saber-fazer do bordado filé, por meio de cursos e oficinas, é muito importante e deveria ser intensificada, para manter viva a tradição. “A renda filé é típica da Barra dos Coqueiros. Aqui no estado de Sergipe, só na Barra que tem essa renda. Eu sou da opinião que deveria ter mais cursos, para ver se mais alguém se interessava, para não deixar morrer a tradição”, pontuou a artesã.
Finha conheceu e aprendeu a técnica com uma professora de Alagoas, estado que guarda a origem da tradição. “Eu aprendi com a professora que vem de Maceió, com o incentivo da Associação dos Moradores aqui da Praia da Costa, onde eu moro. O meu curso começou com 17 pessoas, findou só com 4, e eu dei continuidade, enquanto as outras três pararam”, contou Finha, demonstrando preocupação com a continuidade da tradição do bordado Filé na Barra.
A artesã destaca a importância das iniciativas governamentais no fomento ao artesanato local. “Agradeço muito ao governo e à Secretaria do Trabalho por oferecerem essas oportunidades.” Sua trajetória é marcada por participações em diversas feiras e eventos, tanto locais quanto nacionais. Nos anos anteriores, já esteve em Brasília, Belo Horizonte, Recife, entre outras cidades e agora quer retomar a participação em feiras. “No ano passado, participei de uma feira, a Fenacce e, neste ano, pretendo estar presente em outras, pois uma só é muito pouco”, disse a artesã, ansiosa para concorrer em mais editais em 2025.
Sobre as técnicas que domina, Finha esclarece a distinção entre crochê e o bordado filé. “A diferença entre o crochê e o filé é que, no crochê, a peça é confeccionada diretamente, enquanto no filé, primeiro se faz a tela e, sobre ela, realiza-se o bordado. Costumo dizer que é uma peça feita duas vezes. É uma pena que as pessoas não valorizem o artesanato, pois dá muito trabalho. Só quem realmente aprecia é que reconhece seu valor.”
Tradição do filé
A dedicação e paixão de Finha pelo bordado filé refletem a riqueza cultural e a importância dessa arte no município da Barra dos Coqueiros. De acordo com pesquisas do Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab) do Sebrae, os registros mais antigos do bordado filé são datados do século XVI e há registros de sua chegada no Brasil durante a época colonial. O bordado utiliza uma base de rede ou tecido, onde habilidosamente são confeccionados diversos pontos, cada um com nomes singulares, refletindo não apenas técnicas meticulosas, mas também uma rica herança cultural. O nome filé tem origem francesa, derivado da palavra ‘filet’, denotando a rede de fios atados em nós sobre a qual o bordado é elaborado.
Mais artesanato
Além do bordado filé, diversas tipologias do artesanato estão presentes no Verão Sergipe, assim como a Economia Solidária, com o apoio da Secretaria de Estado do Trabalho. O evento reúne talentos de diferentes regiões do estado, promovendo a valorização da cultura local e incentivando o empreendedorismo.
A artesã Iza Monteiro, de Pacatuba, apresenta a arte da palha de taboa, destacando a importância da participação nesses eventos para ampliar sua renda. “O artesanato é uma renda extra para mim e me ajuda muito, agora que estou participando de mais dessas feirinhas, de eventos como esse. E estou aqui para participar mais do artesanato”, contou.
Já a artesã Valéria Pinheiro, que trabalha com bolsas de crochê, vê no artesanato um caminho para a independência financeira. “Hoje, para mim, é uma renda extra, mas pretendo fazer dela a minha principal fonte de renda. Estou começando a participar dos eventos do governo agora. Participei do Verão Sergipe em Pirambu e estou aqui hoje para divulgar meu trabalho, para que as pessoas conheçam mais e eu consiga alcançar meu objetivo.”
Além do artesanato, a Economia Solidária também se fortalece no evento, como destaca Raquel Ferreira, empreendedora de caldos e sopas na Atalaia Nova. “Tem mais ou menos um ano que comecei a empreender aqui. Sempre que tem feirinha ou evento, somos convidados pela Secretaria. Para mim, isso é muito bom, porque, além da renda extra, a gente faz novos contatos, amizades e conhece pessoas que, se estivesse dentro de casa, não teria essa oportunidade”, comemorou a empreendedora.
Verão Sergipe
O Verão Sergipe é uma realização do Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap) e Secretaria de Estado da Comunicação (Secom), com patrocínio do Banese Card e da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) e apoio das prefeituras de Pacatuba, Canindé de São Francisco, Pirambu, Barra dos Coqueiros, Itaporanga d’Ajuda e Estância, Energisa e Eneva.
Foto: Márcia Pacheco