Os bastidores da eleição municipal de Aracaju estão pra lá de aquecidos e o debate organizado com os candidatos a prefeito pelo grupo FAN FM gerou bastante expectativa. Ainda mais depois de toda a confusão sobre o debate organizado pelo Sistema Atalaia de Comunicação. Como fez no comentário anterior, este colunista não vai desviar a atenção do leitor para discussões inócuas e antiéticas, mas vai sintetizar suas impressões sobre o debate da noite dessa sexta-feira (23).
Mais uma vez os candidatos Zé Paulo (NOVO), Niully Campos (PSOL) e Candisse Carvalho (PT) puderam fazer suas exposições, mas tentaram a todo custo nacionalizar o debate e/ou defender bandeiras ideológicas, num claro conflito entre conservadores e esquerdistas, mas discussões sobre temas diversos, inclusive sobre família e costumes, deixando projetos para a cidade em segundo plano. A petista, inclusive, exagerou no “lulismo”, quando poderia ter avançado mais nas cobranças à atual gestão.
Já o candidato da situação, Luiz Roberto (PDT), em alguns momentos parecia um tanto deslocado e constrangido diante de tantas mazelas expostas no debate sobre a gestão do seu “padrinho político” e prefeito Edvaldo Nogueira (PDT). Nem com a presença do seu marketing, do gestor da capital, do senador Laércio Oliveira (PP) e de auxiliares da PMA e do governo do Estado ele conseguiu se destacar. “Carismático” igual a Edvaldo (SIC), em alguns momentos Luiz parecia tentar defender o indefensável…
Diferente do que aconteceu no debate anterior, a candidata Emília Corrêa (PL) visivelmente não manteve a mesma concentração e não escondeu o incômodo quando questionada por seus adversários. Ela foi menos propositiva e se preocupou mais em atacar, “acusando o golpe”. Desperdiçou tempos preciosos para dizer o que pretende fazer para a cidade e parecia subestimar o potencial da candidata Yandra Moura (União), que faltou ao debate anterior, mas lhe surpreendeu no confronto direto.
Yandra, diga-se de passagem, se destacou no debate quando, mesmo muito questionada e diante das “alfinetadas” de seus adversários, demonstrou segurança nas respostas e argumentos, sem deixar de ser propositiva, aproveitando cada oportunidade para conversar com a população e externar um pouco mais do que pretende fazer por Aracaju. Soube se “apoderar” da pauta da Mulher, com dados da realidade e ações de seu mandato, além de colocar Emília numa situação desconfortável.
Quem também se saiu bem no debate da FAN FM foi a Delegada Danielle (MDB), numa atuação superior à registrada no encontro promovido pelo Sistema Atalaia. Ela foi mais incisiva nos confrontos com Candisse Carvalho e Emília Corrêa, mas voltou a pecar pelas críticas contidas a Edvaldo e ao “continuísmo” de Luiz Roberto. Ainda assim, Danielle e Yandra souberam aproveitar melhor este debate. Agora é esperar o desempenho de todos quando a propaganda eleitoral, no rádio e na tv, iniciar…
Veja essa!
Quando interpelada por Candisse Carvalho sobre concursos, no início do debate, Yandra Moura pontuou reclames de categorias do funcionalismo público municipal, como o não pagamento de alguns benefícios e assumiu o compromisso, se eleita, de ser a “prefeita do concurso público”.
E essa!
Candisse tentou explorar uma suposta falta de transparência de sua adversária e Yandra Moura retrucou dizendo que pretende estabelecer uma Mesa de Negociação Permanente com as categorias. Ela se comprometeu em não enviar para a CMA projetos que retiram direitos dos trabalhadores como aconteceu com os agentes da SMTT.
Clima quente I
O primeiro embate “mais quente” do debate da FAN FM se deu quando Yandra questionou a Emília sobre que ela havia proposto para as mulheres durante sua atuação na Câmara Municipal. A vereadora ficou incomodada com o questionamento e respondeu dizendo que é a presidente da Procuradoria da Mulher da CMA.
Clima quente II
De um lado, Yandra questionou o crescimento dos casos de violência contra a mulher e cobrou ações da vereadora de Aracaju no comando da Procuradoria; em resposta, Emília a acusou de “fake News” por supostamente se intitular como autora de projetos em BSB.
Clima quente III
Emília respondeu dizendo que tem muitos projetos voltados para as mulheres e que tem seu trabalho como defensora pública também; já Yandra provocou dizendo que a vereadora infelizmente não conhece o regimento da Câmara Federal e nem a tramitação dos projetos por lá.
Denúncia
Chamou a atenção deste colunista, presente no debate, a denúncia de Emília Corrêa de que a Prefeitura de Aracaju, próximo do período eleitoral, distribuiu tablets para crianças que sequer foram alfabetizadas, sem saber ler e escrever corretamente.
Zé Paulo
O candidato do NOVO criticou a “festa” da PMA em celebrar o crescimento no IDEB, de 2021 para cá de 5,0 para 5,2 para os anos iniciais, mas reforçando que a nota de Aracaju caiu de 4,4 para 4,3 nos anos finais. “Aracaju está abaixo da média estadual e da média nacional”, disse, criticando as contratações simplificadas.
Concurso
Por sua vez, em defesa do prefeito Edvaldo Nogueira, o candidato Luiz Roberto tentou justificar a baixa avaliação de Aracaju no IDEB lembrando que há um concurso público em andamento na Educação, mesmo que no “apagar das luzes” da gestão, reconhecendo a necessidade de concursos em diversas áreas da mesma administração.
Segurança
Danielle Garcia aproveitou bem o tema “Segurança” para fortalecer o discurso sobre a área que conhece bem, destacando o trabalho de todas as forças, sem deixar de valorizar e dar ênfase ao trabalho da Guarda Municipal. Ela chegou a avaliar a capital sergipana como uma cidade bastante segura.
Dobradinha
Elas conversaram até o “apagar das luzes”, mas cada uma decidiu seguir seu caminho. Candisse Carvalho e Niully Campos chegaram a fazer uma “dobradinha de Esquerda” no debate da FAN, onde ambas se respeitaram e trataram de vender suas propostas, sem deixar de valorizar o conteúdo ideológico no entorno delas.
Sustentabilidade
Outro ponto alto do debate se deu sobre sustentabilidade, quando Yandra tratou de propostas sobre o assunto e chegou a questionar a derrubadas de árvores de avenidas como a Hermes Fontes pela PMA; já Niully Campos vê incoerência no discurso da deputada federal, mas também criticou a derrubada de árvores e acusou a Prefeitura de transformar a capital em “Alagaju”.
Centro de Aracaju
Questionado pela candidata Emília Corrêa sobre o fechamento de lojas e perda de postos de trabalho na região central de Aracaju nos últimos anos, o candidato Luiz Roberto, que quer suceder Edvaldo, anunciou que quer fortalecer aquela área em infraestrutura e do ponto de vista econômico, falando em empréstimos milionários. É aquela coisa: o grupo que destruiu a região central agora quer convencer o eleitor que vai revitalizar aquela área…
“Assassinos de empregos”
A candidata Emília Corrêa pontuou que Luiz Roberto quer dar continuidade à gestão de Edvaldo, mas que foi responsável por “assassinar” empresas e fechar postos de trabalho não apenas na região central, como também nas proximidades da Avenida Hermes Fontes.
Candisse x Danielle I
Outro ponto “quente” do debate girou entre Candisse Carvalho e Danielle Garcia. Quando o assunto era a violência contra a mulher e sobre a necessidade de se ter políticas públicas mais eficientes, a petista denunciou que a DAGV (Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis) sofre com a suspensão do abastecimento de água.
Candisse x Danielle II
Ao citar que Candisse é esposa do senador Rogério Carvalho (PT), ex-secretário de Saúde e criador das Fundações, Danielle perguntou quais as políticas de Saúde poderiam ser feitas para as mulheres e a petista respondeu “eu acho que citar o meu esposo em um debate de mulheres é um pouco desnecessário”.
Candisse x Danielle III
Danielle retrucou lamentando que não imaginava que sua fala iria incomodar Candisse e fez uma saudação a seu esposo, Ricardo, que estava acompanhando o debate no auditório, dizendo que tem orgulho dele como médico que atende ao SUS e que pode contribuir com seu plano de governo.
Licitação do transporte I
Emília Corrêa externou a decisão em caráter liminar para suspender a licitação do transporte coletivo da Grande Aracaju. A candidata Danielle Garcia também estranhou que a licitação tenha ocorrido no “apagar das luzes”, “cheia de meandros” e com questionamentos do Tribunal de Contas e do Ministério Público.
Licitação do transporte II
“As pessoas querem o básico! Não é nem Wi-fi ou ar condicionado, mas chegar no horário, sem porta caindo e sem assédio dentro dos ônibus. As pessoas querem uma tarifa justa e um transporte com dignidade”, disse Danielle Garcia. “São 16 anos de Edvaldo Nogueira na PMA, eu e o vereador Ricardo Marques cobramos na CMA por melhorias, mas agora, no apagar das luzes, vem uma licitação eivada de irregularidades”, completa Emília.
Licitação do transporte III
Danielle aproveitou para lembrar que, no debate anterior, foi acusada por Emília de ser uma “candidata laranja”, mas que mesmo diante dos apelos de Luiz Roberto para ser sua vice, ela está na disputa e de forma independente, em respeito aos cerca de 110 mil votos que recebeu em 2020, inclusive com o apoio de Ricardo Marques, hoje vice na chapa de Emília.
Emília x Danielle I
Se em boa parte do debate houve uma polarização das disputas mais acirradas entre Yandra Moura e Emília Corrêa, em certo momento Emília também foi muito questionada por Danielle Garcia. “Enquanto eu estava na linha de frente, a senhora se escondeu! A Danielle continua a mesma, uma mulher honesta que não se esconde para não declarar voto”.
Emília x Danielle II
Por sua vez, Emília rebateu a narrativa de Danielle Garcia dizendo que ela não conseguiu a confiança do agrupamento governista para ser a candidata a prefeita de Aracaju e por isso se lançou na disputa de forma independente. “É tão governista quanto Yandra e Luiz Roberto. Por isso eu me preocupo com essa licitação do transporte coletivo”.
Auxílios
No embate entre Danielle e Luiz Roberto, ficou exposta a realidade que mais da metade da população aracajuana sobrevive às custas de auxílios e benefícios sociais. O candidato do PDT falou em dar continuidade e fortalecer os auxílios mantendo os cadastros atualizados, ou seja, não há perspectiva para esta parcela da sociedade, além de ficar refém do poder público.
Endometriose
Já Candisse Carvalho aproveitou o candidato governista no debate para questionar a suspensão das cirurgias por endometriose no município de Aracaju. “Hoje existe uma fila de 296 pacientes, muitos em estado grave e nós temos que pensar nas vidas. As cirurgias estão suspensas desde 2023, mesmo com recursos do governo Lula”, disse em uma resposta sobre o tema Turismo, onde ela “alfinetou” a PMA dizendo que os recursos nesta área não podem se limitar ao Forró Caju e ao Festival de Verão.
Debate da FAN
Este colunista agradece ao grupo FAN pelo convite para acompanhar o debate entre os candidatos a prefeito de Aracaju, destaca os acertos, o formato e a participação dos postulantes. Mesmo diante dos acirramentos, não comprometeu e agradou para quem assistia. Houve também muito respeito entre as assessorias nos bastidores e uma avaliação positiva do mediador Narcizo Machado, até porque não é fácil ir para a “linha de frente”, ainda mais depois da “semana tensa” que ele atravessou.
CRÍTICAS E SUGESTÕES
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