Com direção de Lucas Cachalote e roteiro de Anne Samara, o novo clipe de Pardal, intitulado “Meu Deus não é branco”, é uma provocação estética e política sobre identidade, ancestralidade e a negação das corporeidades pretas e de terreiro nas representações hegemônicas do sagrado. O argumento e a composição da obra são assinados pelo próprio artista, que também atua como coreógrafo, bailarino, figurinista, diretor musical e produtor executivo do projeto.
Gravado em locações simbólicas como o terreiro de Candomblé Alarokê, o centro histórico de São Cristóvão e o Mercado Thales Ferraz, em Aracaju, o clipe contou com cerca de 96% de profissionais de terreiro e 97% de pessoas pretas em sua equipe. Uma escolha consciente, que reforça o protagonismo dessas identidades em todas as fases da produção.
“Tenho feito uma pergunta recorrente às pessoas pretas: qual é o Deus que te representa?”, afirma Pardal. “Crescemos cercados por imagens e representações de um Deus branco, com traços europeus, que não se parece em nada conosco. Isso nos foi imposto como modelo de perfeição e humanidade, e acabamos acreditando que era o único possível.”
O artista relata um episódio marcante que reforçou sua inquietação. “Um dia, ouvi um jovem preto, de uns 16 anos, dizer que seria salvo porque o Senhor o tornaria branco como a neve. Aquilo me chocou. Imaginei o rosto daquele menino pintado de branco. A princípio achei engraçado, mas logo veio a dor. Foi um choque perceber o quanto ainda somos levados a acreditar que só seremos plenamente humanos se negarmos quem somos.”
Pardal finaliza com um chamado à reflexão: “Não me perguntem se esta obra é sobre religião. O que proponho é um espelho. Quero que cada um se olhe e se pergunte: a quem se assemelha o seu Deus?”
O clipe conta com um elenco formado por César Griô Nagô, Luara Taysa, Danuza Farias, Adriana do Santos, Rita Avelar e Anderson Hot Black. Os depoimentos de Huguslan, Afro Musa e Gabriel, mediados por Pabulo Henrique, dão contorno documental à narrativa. A fotografia e edição são assinadas por Luan, com assistência de Deloer Américo, gaffer de Val e still de Dayane Dantas. A produção é de Rita Avelar, já a direção de arte e maquiagem ficam por conta de Anne Samara e Mary Carvalho, respectivamente. Na produção musical, Pardal também assina a direção, com Duck responsável pela produção, mixagem e masterização.
O projeto foi realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, política pública de fomento à cultura, viabilizada pelo Governo Federal por meio do Ministério da Cultura. A execução do projeto ficou sob responsabilidade da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), vinculada à Prefeitura de Aracaju.
Por Tirzah Braga – Foto: Dayane Dantas