Segundo médica Mirene Morais, propriedades da planta contemplam diversas condições clínicas e têm menos efeitos colaterais
Até 2017, a polifarmácia, utilização simultânea de cinco ou mais medicamentos – com ou sem prescrição médica –, estava presente na vida de cerca de 10% dos brasileiros. O percentual é maior entre as pessoas acima de 65 anos: 18%. Publicados em pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), os dados estão associados ao envelhecimento da população e ao consequente crescimento nos casos de doenças crônicas. O uso concomitante e rotineiro de múltiplos remédios pode causar efeitos adversos ao paciente, em especial quando não há acompanhamento médico adequado. No entanto, estudos científicos têm apresentado a Cannabis medicinal como alternativa à polifarmácia
De acordo com a médica Mirene Morais, certificada internacionalmente em medicina canábica e pós-graduada em dor pelo Hospital Sírio-Libanês, existe uma série de componentes presentes na planta, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), capazes de manejar um leque vasto de sintomas de diversas doenças crônicas e neurológicas. “A polifarmácia é uma prática comum para muitos idosos do Brasil, e os efeitos adversos das interações medicamentosas podem causar prejuízos à saúde e ao bem-estar dessa parcela da população. E a Cannabis medicinal pode ajudar. Um estudo de 2021, publicado no Journal of Medical Cannabis and Cannabinoids, mostrou que a utilização da planta ajudou a reduzir em 65% o uso de múltiplos medicamentos”, explicou ela.
A profissional de saúde contou que a pesquisa avaliou 157 pacientes, de 21 a 76 anos de idade, e registrou que 78% dos pacientes relataram mudanças em relação ao consumo de medicamentos comprados na farmácia sem necessidade de prescrição médica, como anti-inflamatórios e analgésicos. “O que ocorre é que as propriedades da Cannabis, chamados canabinoides, têm funções variadas, que contribuem para melhorar o sono, reduzir dores e inflamações, regular o humor, melhorar o apetite, entre outros benefícios. Então, quando atuam em conjunto, podem minimizar sintomas causados por múltiplas condições clínicas, evitando, assim, o uso de vários medicamentos convencionais em simultâneo”, afirmou.
MAIS VANTAGENS
Mirene Morais ressaltou, ainda, que a Cannabis medicinal pode contribuir para a redução da polifarmácia entre pacientes oncológicos. Conforme um estudo do European Journal of Internal Medicine, que avaliou os efeitos do uso medicinal da Cannabis em 2.970 pacientes com câncer entre os anos de 2015 e 2017, a utilização médica da planta foi eficaz para tratar sintomas comuns do quadro clínico em 95% dos 1.211 participantes sobreviventes – após seis meses de análise. “A Cannabis medicinal ajudou a reduzir distúrbios do sono, dor, fadiga, náusea e falta de apetite. A pesquisa demonstrou que não só foi eficaz, mas segura e bem tolerada. É um momento difícil, e essa alternativa pode ser uma forte aliada”, enfatizou ela.
Contudo, Mirene destacou que nem sempre a Cannabis medicinal irá substituir um medicamento convencional, e, em alguns casos, a utilização médica da planta vai se colocar como um tratamento adicional. Ela disse que o paciente deve analisar, junto ao médico responsável, os efeitos positivos e eventuais adversidades causadas por um medicamento, a fim de avaliar a necessidade de sua continuidade, substituição ou interrupção. “É necessário que o paciente seja acompanhado por um profissional qualificado, que o oriente de forma a tomar a melhor decisão para a sua saúde. Em alguns casos, medicamentos podem ser substituídos por remédios à base de Cannabis, mas é imprescindível a análise médica”.
Foto arquivo pessoal
Por Kátia Santana