Aracaju, 4 de dezembro de 2024
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Em Estância, no “milagre dos passarinhos”, escreve pesquisador e professor

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Acrísio Gonçalves de Oliveira*

Há muito vinha, aos poucos, separando dados sobre a Cabeça do Boi, uma região de Estância. Nela existia o Cruzeiro da Cabeça do Boi. Infelizmente o cruzeiro deixou de existir, mas o lugar onde ele estava implantado se tornou marcante para as tradições religiosas estancianas. O Alto da Cabeça do Boi é uma das elevações mais expressivas da cidade. Há mais de 150 anos que é lugar de oração. É sagrado.

Ali um visitante, acostumado a encarar aventura, pensa logo em seguir uma trilha pra poder fazer com segurança a escalada. Eu fui um desses. Senti-me escalando o Everest! Segui no meio do mato por uma estradinha piçarrada, onde as pequenas pedras em todo o morro não deixam os matos nascer à vontade. A vegetação mais faz lembrar um cerrado. Sem deixar de ser atraente, tudo em seu entorno é sofrido. Deixemos. É natural. É a imposição da natureza dali.

Antes que seja tarde, primeiro é preciso o poder público salvar ali duas coisas: o próprio morro e a fonte existente em seu pé. Devido à retirada de parte do morro após o surgimento da BR 101, quem sabe para aterramento, ele passou a ficar exposto. Sem gramas e sem árvores, aos poucos desaba. Já a fonte, batizada pela ancestralidade de “fonte dos passarinhos” (porque existiam muitos passarinhos que tomavam banho e bebiam dela), sem árvores ao redor, sucumbe. Algo no mínimo trágico!

Quanto ao antigo cruzeiro, colocado no cocuruto do morro, era imponente. Talvez nem registro fotográfico exista. Dizem os antigos que na frente dele (próximo ao pé do morro) havia uma lagarta e uma cabeça de boi, símbolos talvez artísticos, talvez representativos daquela região que o povo tentava resguardar. Esse foi mais um patrimônio cultural que Estância abandonou e deixou se perder. Acredito que ele ainda existia nos inícios de 2000. O morro, localizado à esquerda da BR 101 (sentido Estância-Aracaju), por ter se tornado ponto de pagamento de promessas e de romaria dos estancianos, tornou-se respeitado. Ainda hoje sobem pessoas no morro para fazer oração, sozinhas ou em grupos. “Certa vez quando subi lá eu vi uma pequena cruz e no pé dela uma bíblia aberta”, disse uma jovem moradora do conjunto Paulo Amaral. Lamentavelmente, nessa minha visita, a tal cruzinha não vi. Lá existe um pequeno barraco que possivelmente os devotos ergueram. Pude ver qualquer coisa como uma pequena base, o que pode remeter à base do cruzeiro que existia.

Quando naquela época os devotos seguiam em procissão até o morro, antes de subirem não podiam deixar de beber a água da referida fonte, pois chegavam sedentos. Às vezes, eles vinham do centro (há três ou quatro quilômetros do local) e até de lugares bem mais distantes. Conta-se que certa vez um grupo de pessoas resolveu pagar uma promessa e, dado a íngreme inclinação do morro, teve menino que subiu de quatro pés. No meio do grupo se encontravam as irmãs Maria do Vinho e Zefa do Vinho (rezadeira). Essa última pagou sua promessa ao carregar uma pedra na cabeça. Desafiando o morro, em pé, Zefa firmemente o escalou!

Muito antigo, Cabeça do Boi foi um povoado historicamente marcante da cidade de Estância. Conta-se que seu nome surgiu depois da passagem de um “bêbado” por ali com uma cabeça de boi nas costas. “Os antigo dizia que aqui quase não tinha casa, aí passou um homem, bebendo uma cachacinha, com uma cabeça de boi nas costas. Depois disso quando falava daqui dizia: lá na Cabeça do Boi, na Cabeça do Boi, e assim ficou”, reafirma a moradora Maria Angélica. Se uma pessoa pergunta a um estanciano onde fica a rua Camilo Calazans, poucos saberão. Mas se se referir ao nome Cabeça do Boi, que é o mesmo lugar, todos dirão onde fica … (continua)

*Acrísio Gonçalves de Oliveira, pesquisador, professor do Estado e da Rede Pública de Estância

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