Por Lívia Lessa
O pesquisador cultural, documentarista, geógrafo e professor Sérgio Borges – da Escola Estadual Paulino Nascimento, localizada no Povoado Robalo, unidade escolar circunscrita à Diretoria de Educação de Aracaju – , com mais de 30 anos de experiência em regência de classe, é um eterno apaixonado pela prática docente. O educador realiza um trabalho diferenciado em sala de aula. Ele consegue aliar o que é cobrado nos conteúdos curriculares com a produção audiovisual.
Inquieto, curioso e resolutivo, Sérgio Borges, além de organizar Mostras de Filmes, e assim oportunizar o contado dos estudantes com as obras cinematográficas, já conquistou diversos prêmios locais e nacionais com 33 documentários produzidos no estado de Sergipe. Relatar o cotidiano, de acordo com ele, é olhar para as cidades e personagens visíveis e invisíveis.
“O contato com as obras cinematográficas proporciona debates, discussões, reflexões, criação e ainda possibilita as produções dos alunos. Por meio da sétima arte, é possível olhar para si, para os outros e aumentar o repertório cultural. Os conteúdos não são transmitidos de forma mecânica e passiva, mas sim de maneira interdisciplinar e lúdica”, ressalta o professor pesquisador.
Cinema e educação: diálogos possíveis
Ainda conforme o professor Borges, aliar as linguagens do cinema, música, jornalismo em sala de aula, numa perspectiva mais propedêutica, enriquece bem mais o trabalho dos professores. O educador afirma que com envolvimento, empenho e criatividade é possível não só oferecer aulas mais atrativas, como também mostrar aos jovens que a obtenção e construção do conhecimento é algo possível no cotidiano e que ultrapassa as barreiras do espaço escolar.
“Quando estou em sala de aula busco apresentar os conteúdos cobrados pela grade curricular de uma maneira que prepare os estudantes para a vida e para encarar os desafios. Ou seja, acredito na eficácia de uma educação numa ótica integral para além das aprovações no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares. Neste contexto, o audiovisual é um instrumento importante que colabora no processo de ensino e aprendizagem”, defende o professor.
Sérgio Borges admite que o envolvimento dos discentes em projetos pedagógicos permite a ampliação dos conhecimentos. “Além disso, viabiliza a descoberta de novos talentos, desenvolvimento de habilidades e competências, sobretudo dos estudantes residentes nas áreas periféricas que ingressaram na universidade e hoje têm outras perspectivas. O trabalho do educador é mostrar aos estudantes o quanto eles são capazes, e isso reflete na autoestima desses jovens”, destaca.
Educação como um ato de liberdade
Ao ser questionado acerca do papel da educação na sociedade, o professor Sérgio reforça que reconhece sua importância num prisma de acordo com o que defendia o filósofo e educador brasileiro Paulo Freire.
“Considero a educação como um ato de liberdade. Além disso, é compartilhar, ressignificar e ainda ampliar horizontes e olhares. Nesta concepção é que trago o audiovisual para o espaço escolar. Dessa maneira, os conteúdos não são transmitidos mecânica e passivamente”, defende, ao afirmar que o professor deve ter um olhar sensível como de um pesquisador e aberto para as mudanças do mundo.
O docente e doutorando em sociologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e sociólogo Luigi de Oliveira, foi aluno de Sérgio Borges há mais de 15 anos. Segundo o pesquisador Luigi, a postura do seu professor de geografia serviu como uma fonte de inspiração. “Atualmente há uma espetacularização na forma de transmitir o conteúdo, e isso modificou significativamente a forma que o professor atua em sala de aula, e neste cenário, Borges consegue manter uma perspectiva de ensinar mais pautada no respeito ao conhecimento e mesmo assim não deixa de prender a atenção do aluno e despertar o seu interesse”, afirmou Luigi.
Para Luigi de Oliveira, a lembrança do professor de geografia está guardada juntamente com a de seus grandes mestres. “Enquanto estudante, relembro que Sérgio Borges era um profissional que demonstrava uma paixão tão grande pelo que fazia em sala de aula e um intenso amor pelo conhecimento que era impossível não cativar os alunos. Essa recordação é muito marcante. Hoje, como também educador e colega, eu o encaro como um professor no sentido mais pleno da palavra e com uma atuação importante na educação básica. Ele foi um dos educadores que me inspirou a me dedicar à Sociologia”, declara o pesquisador.
Sérgio Borges não esconde o amor pelo que faz. De acordo com ele, é gratificante saber do sucesso dos seus alunos e ex-alunos. Por esse motivo, ele diz que não mede esforços para fazer aquilo em que acredita e corre atrás. “Quando quero realizar algum projeto e/ou mostra na Escola Estadual Paulino Nascimento conto com todo o apoio das equipes docente e diretiva, e isso é muito importante”, reconhece.
Premiações
Os prêmios conquistados pelo professor Borges permitiram, além da notoriedade do que realiza, apresentar o que tem no Estado para todo o País. “As premiações refletiram como uma forma de divulgação do meu trabalho e também do que vem sendo produzido no Estado de Sergipe e no cenário educacional. Em 2017, ganhei o prêmio de melhor curta metragem de um minuto com o filme Boca Aberta. A premiação foi feita pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em parceria com o Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (TCE) e Fundação Aperipê, no evento em homenagem ao cineasta sergipano Waldemar Lima”, diz.
Em seu currículo, Sérgio Borges registra as premiações dos seguintes documentários: “Você conhece La conga?”, Prêmio de júri popular do Festival de curta-se (SE), em 2007; Vira mundos – prêmio do júri Popular, segundo melhor curta sergipano, em 2006; Chica Chaves, um Bairro Operário – vencedor em primeiro lugar no prêmio Mário Cabral de Audiovisual, em 2014 pela Funcaju – Prefeitura Municipal de Aracaju; O Doce Exílio, a breve passagem de Jorge Amado Por Estância/Sergipe (Ancine – Ministério da Cultura), em 2015 – contemplado como o primeiro lugar – júri técnico melhor curta Sergipano no festival iberoamericano de cinema de Sergipe, e Tototós: Canoas do rio Sergipe, contemplado no edital prêmio Wilson Silva de audiovisual/SECULT–SE em 2016.
Produções
Além das obras que foram reconhecidas em concursos locais e nacionais, Sérgio Borges se dedicou à produção de mais de 30 filmes, a saber: Esculturas de Lamas, em 1999 – produção independente, exibido no Curta-se; Silva Lima – uma memória do rádio em Sergipe (produção independente em 2005), exibido no festival Curta-se; Documentário – Fragmentos em slowmotion, em 2000 – produção: TV cidade e Funcaju, e Documentário – Massapê, Memórias e Engenhos, de 2015 – realização: Universidade Federal de Sergipe e Prefeitura Municipal de Rosário do Catete.
Os videoclips e vídeos experimentais são: A derrubada do Miramar: cabaré antigo de Aracaju; Irene em preto e branco – vídeo experimental produzido sobre a artista plástica baiana Irene Mendes; Janela da Rua Aurora – vídeo experimental sobre as janelas do centro histórico da cidade de Aracaju; Tanhante ele merece confetes dourados – vídeo sobre a vida de Luciano Valença, como caixeiro viajante; Rua do Siriri – curta experimental sobre a obra de Amando Fontes, e a ficção A data Magna do nosso Calendário cívico – exibido na mostra de filme do Botequim.com.br.
O professor destaca que sempre que possível realiza e organiza mostra de filmes. Já foram apresentadas em eventos as seguintes produções: – Yes nos temos cinema- Cultart – Universidade Federal de Sergipe , em 1999 – homenagem à cineasta sergipana Ilma Fontes, com a exibição dos seus filmes: O Beijo e Arcanos – Aracaju; Amostra dos Curtas Sergipanos – Yazigi – 200º – Aracaju e lançamento do documentário O doce Exílio, a breve passagem de Jorge Amado Por Estância/Sergipe – Museu da Gente Sergipana- Instituto Banese.
Estão registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro os documentários: Viva o Povo da Maloca – sobre o primeiro quilombola urbano do Brasil – escrito no Doctv; Luzes e cores em Jenner – sobre a obra do artista plástico Jenner Augusto – escrito no Doctv; Lambe Lambe – A história dos fotógrafos de rua de Aracaju – escrito no Doctv; Tototós – Canoas do Rio Sergipe; O Doce exílio – A breve passagem de Jorge Amado Por Estância/Sergipe e Cabelo, Barba e Bigode – História dos Barbeiros de Aracaju – Edital cultural do BNB – Banco do Nordeste do Brasil.
Trajetória
O educador se formou no ano de 1989 em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 1995 se tornou mestre em Geografia Agrária pela mesma instituição. Atualmente, é professor da Secretaria de Estado da Educação de Sergipe (Seed). Ele divide seu tempo entre as atribuições de docente e ainda se dedica às produções cinematográficas.
Foto assessoria