O consumo de álcool faz parte da vida da maioria das pessoas quando o objetivo é festejar, mas também é motivo de atenção e preocupação quando o uso se torna problemático, excedendo, inclusive, os limites do próprio corpo. Este ano, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), somente no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) AD III Primavera, realizou 25 mil atendimentos.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (Reaps) oferta assistência em saúde para as pessoas que enfrentam as consequências causadas pelo uso excessivo de álcool e outras drogas, que são os Caps. Em Aracaju, dois dos seis Caps são direcionados para este público, o Caps AD III Primavera, situado no bairro Atalaia, e o Caps AD III Vida, localizado no bairro América.
O coordenador do Caps AD III Primavera, Maurício Mendes Belmonte, classifica a relação com a bebida um indicador sobre o padrão de uso que pode ser considerado problemático.
“Seria muito utópico imaginar uma sociedade sem drogas. Pensando no limite do uso do álcool, aqui no CAPS estamos sempre falando na relação que as pessoas têm com as substâncias, nesse caso, o álcool. Muita gente consegue fazer uso recreativo ou beber socialmente de uma maneira que não lhe traga prejuízo, porém, é importante pensar que se o indivíduo organiza seu dia pensando na bebida é um sinal de que tem uma relação de alto risco com a bebida. Desta forma, quando essa pessoa não percebe que o corpo começou a resistir à quantidade que ela bebe, vai ganhando resistência ao não perceber os efeitos maléficos sobre o controle motor, por exemplo. Ou mesmo quando o uso da substância a impede de realizar as atividades do dia a dia, ou seja, não ir ao trabalho, afetar a memória ou processos de cognição etc, são alguns sinais deletérios do álcool que indicam a necessidade de procurar ajuda”, relata Maurício.
Sendo o Caps um serviço porta aberta, onde o indivíduo ou familiar pode se deslocar até lá para buscar tratamento, as ações de cuidado são desenvolvidas por uma equipe multiprofissional composta por médico, psicólogo, psiquiatra, enfermeiro, redutor de danos, oficineiro, educador físico, dentre outros. O trabalho desta equipe é pautado na construção de vínculo, processo de escuta e acolhimento na perspectiva da redução de danos, em consonância com os princípios do SUS, como explica o coordenador.
“Ao chegar ao Caps a pessoa será ouvida e também será traçado o Projeto Terapêutico Singular (PTS). Ele tem esse nome porque toda proposta de cuidado dessa pessoa é pensada exclusivamente para ela porque o Caps oferece algumas atividades terapêuticas pensando no melhor manejo para que a pessoa reflita e consiga, para além do suporte medicamentoso, também construir a reabilitação psicossocial de modo a alcançar o protagonismo do cuidado e da condução da própria vida, pois a pessoa em sofrimento psíquico acaba rompendo alguns laços sociais”, argumenta Maurício Mendes Belmonte.
Em alguns casos, os efeitos deletérios do álcool suscitam outras doenças como a depressão e a ansiedade, alerta a psicóloga do Caps AD III Primavera, Dilceia Matos. Segundo ela, o álcool tem efeitos positivos durante o início do uso, que é a sensação de bem estar, euforia e alegria, mas também há efeitos negativos, sobretudo a longo prazo.
“Como é uma substância psicotrópica, ela age no cérebro e produz esse efeito de euforia e alegria, mas com o passar do tempo, se esse uso passa a ser abusivo, os efeitos irão mudar e a pessoa começará a apresentar irritabilidade, ansiedade, depressão, estes últimos são os principais transtornos associados ao uso problemático do álcool. Muitas vezes a pessoa chega ao serviço com a vida já comprometida, infelizmente, até porque o Caps recepciona casos de uso moderado a grave”, destaca Dilceia Matos.
Foto: Ascom/SMS