Aracaju, 24 de dezembro de 2024
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Volta às aulas presenciais requer atenção aos protocolos sanitários e impactos

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Todo início de ano, os pais e responsáveis se preparam para a volta às aulas dos filhos. Realizar matrícula, comprar o material escolar e motivar as crianças e adolescentes a recomeçar os estudos são tarefas comuns nesse período. Neste ano, porém, o retorno às aulas presenciais requer ainda mais cuidados em virtude da pandemia do novo coronavírus, que alterou a rotina de estudantes em todo o mundo.

Para garantir um retorno seguro, a Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), elaborou um protocolo com uma série de medidas sanitárias preventivas à covid-19, que precisarão ser seguidas por todas as instituições de ensino. Assim, foi possível autorizar a retomada das aulas presenciais nas escolas particulares na próxima segunda-feira, 18, e nas escolas públicas no dia 22 de março.

A infectologista da SMS, Fabrízia Tavares, destaca que a união entre os gestores das escolas e a gestão municipal permite que os protocolos sejam eficientes. “O que a gente tem observado é que os colégios têm se esforçado muito na elaboração dos protocolos, tanto na rede particular quanto na rede pública. Os esforços são em relação à confecção de protocolos que já foram discutidos, inclusive em câmaras técnicas, e todo o esforço feito para que essas medidas sejam colocadas em prática”, destaca.

A infectologista afirma, ainda, que as crianças representam uma parte menor dos atendimentos feitos na capital sobre a covid-19. “A faixa etária que mais vem dando entrada na rede hospitalar com quadros mais importantes para covid são adultos jovens, ou seja, acima de 18 anos. Então, nas faixas etárias menores a gente não tem visto uma significância epidemiológica em relação à contribuição para o número de novos casos nem para o número de casos graves”, afirma.

Protocolos

Além das medidas obrigatórias a serem adotadas nas escolas, como distanciamento social e uso de álcool em gel, o retorno dos estudantes será de forma paulatina, com a aplicação de rodízio, por exemplo, e a forma híbrida de ensino, com a continuação do uso das aulas virtuais.

Ainda assim, Fabrízia ressalta a importância dos pais procurarem a escola para conhecer os protocolos elaborados por aquela instituição. “É muito importante que os pais participem, vejam como está o colégio, como eles se preparam para receber os seus alunos. E também sejam parceiros nessa construção, isso é importante”, destaca.

Foi o que fez a jornalista Rafaella Vieira, mãe de duas filhas pequenas: Manuela, de 3 anos, e Ester, de 1 ano. Ela analisou a preparação do colégio para onde vai mandar sua filha mais velha na próxima segunda-feira, 18. “A escola está muito bem preparada para receber. Eles estão com o protocolo de higiene e segurança muito afinado. Como a escola dela é pequena e tem poucos alunos por sala, facilita esse desenrolar do protocolo”, afirma.

Segundo a jornalista, a decisão de retornar às aulas presenciais de sua filha não foi fácil, mas pesou a alegria da pequena Manuela em saber que voltará a reencontrar os colegas. “Claro que eu tenho um pouco de receio porque a gente está no meio de uma pandemia, mas ao mesmo tempo eu penso que a infância dela está passando e isso são coisas que não voltam mais. Então eu tenho que colocar isso na balança. Ela está muito animada.”

A engenheira e empreendedora Mariana Couto também afirma que mandará seu filho Guilherme, de 3 anos, de volta às aulas presenciais. Apesar de reconhecer o esforço da escola em prestar o melhor apoio durante o ensino remoto – com o envio de atividades em caixas e a realização de aulas virtuais – ela afirma que foi um período difícil para dividir as atenções entre o trabalho e o ensino do filho; o que contribuiu para a decisão pelo retorno das aulas presenciais.

“Eu sou empresária e o fato de ter que dividir a atenção o dia inteiro entre ele e a loja fez com que no final do ano passado eu tivesse o início de uma síndrome de burnout. Eu estava completamente exausta, com taquicardia. Porque eu queria dar atenção a ele, fazer as atividades, e não queria que ele ficasse muito tempo na televisão, tinha que ficar com ele fazendo alguma coisa. Então, acabava que eu ia trabalhar quando ele ia dormir, aí eu ia até às duas horas da manhã e no outro dia às 7h estava acordada de novo. Então foi muito pesado, esse foi um dos pontos que a gente pesou para a decisão de retorno às aulas.”

Além disso, Mariana afirma que conversou com dois pediatras antes de tomar a decisão. Segundo ela, os profissionais avaliaram que o período de isolamento pelo qual as crianças passaram poderia causar transtornos psicológicos. “Eu escutei alguns pediatras falando sobre o tema e eles falavam que não se sabe quais serão os danos psicológicos dessas crianças por conta do tempo de isolamento sem contato com outras crianças. Meu filho realmente não tinha contato, o contato dele foi praticamente zero.”

Impactos emocionais

Essa situação ressalta a importância de se preocupar com outro fator nesse retorno às aulas presenciais: os impactos emocionais nas crianças, pais e professores. A psicopedagoga Elaine Campos, que trabalha no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Infanto Juvenil Ivone Lara, em Aracaju, destaca que nas crianças o principal impacto é o medo. “A gente se deparou com muitas crianças adoecidas nesse sentido. O medo de sair de casa, o medo do contágio, o medo de perder alguém.”

Para amenizar essa situação, a psicopedagoga destaca a importância do diálogo constante entre a escola e a família. ”Tanto a família como a escola vão precisar se reorganizar. Vai ser preciso um acolhimento mútuo: tanto da escola com a família, como da família com a escola. Aceitar as limitações de cada instituição”, afirma.

Além disso, Elaine relembra que a missão do professor em sala de aula será enorme, já que, além de se autocuidar, precisarão fiscalizar o cumprimento das medidas de biossegurança pelos alunos. E, exatamente por ter esse contato mais próximo com as crianças e adolescentes, os professores podem se tornar importantes aliados das famílias.

“Esse é o papel importante do professor. Ele vai ficar atento para perceber possíveis danos e sinalizar para a família. Porque, em casa, os pais têm outros afazeres; a casa se tornou escritório, o local de formação, a sala de aula. Então, são muitas demandas dentro de casa que talvez os pais acabam passando alguma coisa. Na escola, o professor vai sinalizar e, assim, vai ajudar a família a direcionar o cuidado dessa criança e adolescente para profissionais especializados”, explica.

Para os mais jovens, cumprir medidas que obrigam o distanciamento entre os colegas pode ser mais difícil, como explica a psicopedagoga. “A criança é um ser, por natureza, afetuoso. O ser humano tem essa necessidade do contato físico, mas para a criança isso é muito mais concreto. O tocar, o acolher é algo natural mesmo.”

Entretanto, com muito diálogo, é possível convencer as crianças e jovens a seguirem os protocolos e, assim, possibilitar que a volta às aulas presenciais seja feita de forma segura, como explica Elaine. “Elas provaram que acatam regras, desde que entendidas.  Então este é o grande papel dos pais, das famílias, dos cuidadores: usar dessa paciência, dessa força que eles têm dentro de si e usar de muito amor”.

Foto: Marcelle Cristinne

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